11 julho 2010

A mãe da Maíza é que conta


Quando eu era menina, trouxeram-me de fora, de muito longe, uma boneca diferente das outras, uma boneca especial, que tinha dentro outras bonecas escondidas. A gente desatarraxava o corpo da primeira boneca e, de dentro dela, aparecia outra boneca. Esta segunda boneca tinha outra lá dentro. Desatarraxávamos a terceira boneca e aparecia-nos uma quarta boneca. Desta quarta boneca...
- Uf! Não vale a pena continuar, que já avaliam o que a quarta boneca trazia dentro. E por aí fora, por aí fora... Diante dos meus olhos de menina, a minha mãe explicava-me, apontando-me a boneca maior:
- Faz de conta que esta é a tua bisavó. Lembras-te da tua bisavó Esmeralda? A tua avó velhinha, como tu lhe chamavas, mas, aqui, mais nova. Da tua bisavó Esmeralda, nasceu a tua avó Elvira... E a minha mãe mostrava-me a segunda boneca, escondida dentro da primeira.
- Da tua avó Elvira, nasci eu, que sou a tua mãe... E a minha mãe mostrava-me a terceira boneca, escondida dentro da segunda boneca.
- Depois de mim nasceste tu, a minha filhinha querida... - continuava a minha mãe. Eu era a quarta boneca. Olhei para mim, boneca pequena, e achei-me igual às outras, ainda que mais miudinha no tamanho. Quatro bonecas, que tinham saído umas de dentro das outras...
- E depois? - perguntei eu à minha mãe.
- Depois? - sorriu a minha mãe. - Depois... tu saberás.
Já sei agora. A minha boneca chama-se Maíza e está no berço. Dorme. Quando ela crescer, e de bebé se fizer menina, hei-de contar-lhe esta história de bonecas.
António Torrado, História do Dia
(11 de Julho,
Dia Mundial da População)

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