Lenda da moura encantada do Castelo da Feira
Houve em tempos uma moura muito linda e dócil, que se apaixonou por um nobre cavaleiro português. Durante uma viagem de Coimbra para a Feira, os mouros foram atacados de surpresa pelas forças militares de Henrique de Borgonha, Conde de Portucale (pai de D. Afonso Henriques), que tentava expulsar os mouros dos seus domínios.
Nesse tempo, o castelo da Feira era controlado por um mouro, Almansor. Como se tratava de uma princesa moura prometida ao Emir da Feira, vinha uma pequena guarnição militar a acompanhá-la; por isso, não foi difícil tomá-los como reféns.
Houve, de imediato, uma atracção entre o jovem cavaleiro e a prometida princesa. Este, como era da máxima confiança do rei, ficou encarregue da guarda pessoal da princesa e suas aias. Como se tratava de uma personalidade importante para futuro negócio de troca de prisioneiros, logo o rei católico mandou um emissário ao castelo da Feira para dar a conhecer o sequestro da princesa moura. Furioso, o Emir mandou matar dez prisioneiros portugueses e ele mesmo matou o emissário. Aquela princesa estava-lhe prometida, desde tenra idade, e tinha-lhe ficado por uma fortuna. Tinha esperado o tempo até que a menina tivesse os 14 anos para poder casar.
Almansor, que já tinha 50 anos, era casado com outras três mulheres, visto que a religião muçulmana permitia casar com quatro mulheres, desde que as pudesse manter.
Com o tempo, o Emir foi arquitectando a forma de negociar a devolução da sua futura esposa. Durante um ano fizera duas incursões militares ao castelo de Gaia, onde estaria a princesa enclausurada, mas não conseguira vencer. Então, desesperado, negoceia uma avultada soma de dinheiro e todos os prisioneiros católicos que tinha.
Durante esse tempo, os amantes sentiam-se cada vez mais apaixonados. Quando o Conde deu a notícia ao seu cavaleiro de confiança que a princesa iria ser libertada, o jovem ficou desesperado e desertou, sem dar notícia. A princesa lá foi libertada, chorosa por deixar o seu amor, mas, ao mesmo tempo, furiosa por ele nem sequer ter tido a coragem de se despedir dela.
Quando a rapariga viu o seu futuro marido, ficou pálida, parecia estar a ver um fantasma, de tão feio e velho que era. Acima de tudo, estava perdida de amores pelo jovem loiro e belo, seu guarda costas, o seu amor, e tinha desejado ficar presa toda a vida. Sentia-se, por isso, infeliz, enquanto decorriam os preparativos para o casamento.
Com o passar do tempo, a jovem noiva começou a definhar e a não ter forças para se levantar da cama. O seu futuro esposo, contudo, era seu dono e queria depressa acabar com os preparativos.
Entretanto, durante uma noite de lua cheia, a princesa dirigiu-se ao postigo dos seus aposentos, a chorar; olhava na direcção do sítio onde outrora fora feliz e onde estava o castelo do inimigo. Sonhava que ele haveria de a vir libertar e imaginava o vulto do seu amado... De repente, do lado exterior do castelo, uma voz chamou-a. Reconheceu-a e, com o robe de seda, desceu a Torre de Menagem!
Muito feliz, ficou a falar até muito tarde com o seu amor, através das ameias das defesas do castelo. Combinaram a maneira de poderem fugir, no dia do casamento, pela porta da traição, enquanto os convivas confraternizavam; a aia de confiança subornaria o guarda, seu conhecido, para, mais tarde, a princesa, fingindo má disposição, fugir e ir ter com ele.
Na manhã seguinte, iniciaram-se os preparativos para o casamento; a noiva parecia, finalmente, feliz. Tudo decorria como planeado, quando o Emir, desconfiado, pediu secretamente ao seu guarda pessoal para reforçar a guarda.
Sem saber do sucedido, a princesa começou a colocar o seu plano em acção. No entanto, assim que chegou perto da porta da traição, um reforço da guarda apanhou o seu amante, tendo este sido levado ao Emir. Este de imediato o degolou, tendo a princesa assistido a tudo.
Desesperada com este acto, a princesa agarrou na cabeça do seu amado e atirou-se para o poço do Castelo da Feira, morrendo de imediato.
Nasceu a Lenda da Moura Encantada...
Diz-se que a partir daí toda a desgraça caiu sobre os mouros. Em pouco tempo, lançou-se o boato que o Castelo estava amaldiçoado. Aproveitando essa situação, Henrique de Borgonha organizou um assalto ao Castelo, tomando-o de vez.
Diziam que, sempre que havia lua cheia, a Moura Encantada aparecia de robe branco florescente, com a cabeça do seu amado debaixo do braço. Quem a olhasse nos olhos, caía fulminado.
Dizem, também, que é em noite de nevoeiro que ela aparece com mais frequência, principalmente aos enamorados, que ela protege e vigia.
Quando forem passear para as imediações do Castelo da Feira, em noite de lua cheia ou de nevoeiro, e virem uma rapariga descalça, em robe reluzente, recordem-se: nunca a fixem com o olhar se não amarem uma pessoa ou não estiverem apaixonados por alguém. Também não precisam fugir, porque ela nada de mal vos fará. Reza a lenda que aqueles que estiverem enamorados e a virem têm garantido o seu amor e muita sorte.
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